segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Cartas a um Soldado Esquecido - Parte 4

Ao escrever, perdeu a noção do tempo.
Pensava, não estou disposta a deixar meu Deus. Mas ainda posso mostrar o quanto Ele é bom.

Escreveu as Cartas com avidez. As palavras pareciam brotar de suas mãos trêmulas. A mão na Pena, a Pena na tinta, a Tinta no Papel e no Papel uma infinidade de palavras que vinham de locais desconhecidos por ela. Havia algo de diferente naquela manhã. Havia algo maior do que ela, maior do que seu sentimento.

Eram 06:05 da manhã. Os dois estavam distantes, separados por Quilômetros de Estrada. Ela encontrou uma pequena caixa de madeira fina, que abria como uma boca, e que havia comprado há pouco para colocar alguns objetos pessoais. Estava numa estante na sala de estar, logo ao lado da entrada da cozinha. Tomou rapidamente a caixa e pôs um livro dentro e embaixo do livro, as cartas. Tomou o cadeado, inscreveu algo nele com a ponta da chave do carro e trancou.

Correu para o veículo. Eram 06:15 da manhã e ela deveria se apressar. Foi o mais rápido que pôde. Chegou lá às 06:27, a tempo de encontrar com um velho amigo do casal, melhor amigo de Jonas. Capitão Eliel Sold, Comandante do 2º RAB.

- Eli! Eli! - Começou a gritar com desespero quando o viu ainda na área comum, visto que todos já haviam deixado aquela área e se encaminhado aos transportes.
- Jeniffer? - Disse Eliel com certo espanto ao vê-la ali.
- Oi! Olha... Não me leve a mal, mas preciso entregar isto a Jonas. - Disse apressadamente e ofegante devido a corrida. Apresentou a caixa raquítica.
- Ao Jon? Mas... - Falou com incerteza.
- Sim Eli! Não me pergunta nada... Por favor! Me deixa passar! - Disse. Os olhos marejados e suplicantes.
- Não posso Jeniffer... Até quero. Mas olha toda essa gente. - Disse apontando para as inúmeras famílias presentes ali para dar um último adeus a seus bravos soldados.
Ela olhou ao redor. Aquela multidão. Todos estavam ali por aqueles que amavam. Aqueles que lhe fariam mais falta do que agora podiam imaginar. Mas ela havia se atrasado, e já era tarde. E foi essa consciência que a fez chorar amargamente. Seu rosto branco se tornou de um vermelho forte. Sua mão subiu até a boca para tapar o amargor que vinha de dentro dela, algo que lhe embrulhava o estômago e não encontrava palavras para se expressar. As lágrimas vieram logo depois.

06:30. O rugir das turbinas arrancou-a do torpor.

- Jeniffer... Olha. Eu não posso te deixar entrar. Mas posso ao menos fazer alguma coisa por vocês? - Disse Eliel estendendo a mão e pondo-a num de seus ombros.
- Pode entregar isso a ele..? - Disse ela enxugando as lágrimas já abundantes em seu rosto.
- Posso sim. - Disse Eliel tirando vagarosamente a caixa das mãos trêmulas de Jeniffer. - Posso fazer isso agora mesmo. Tenho que alcançá-lo. Você vai ficar bem?
- Vou sim... Só entrega a ele... E não diz que fui eu quem mandou. Diga apenas que é "Pras horas difíceis".
- Tá bem. - Disse Eliel enquanto se afastava Dela e ia ao encontro Dele.
Ela observava enquanto Eli ia embora. Baixou a cabeça Tentando se despedir do marido. Como se mesmo distante ele pudesse sentir que ela o amava. Que estava ali por ele. E essa era a maior prova de seu amor. O próprio amor que sentia.

- "Ei! Sargento!" E foi assim que tudo começou.

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